domingo, 24 de julho de 2011

A ver navios

Depois dessa postagem fofinha, eu ainda acredito que todo azar pra vapozeiro - animal racional da ordem dos vikings-sailors que trabalha embarcado, mais conhecido como marítimo ou marinheiro - é pouco! Sim, é muito pouco. “Vapo” tem que sofrer até o último centavo ganho com sofreguidão.

Se o navio vai passar no porto da cidade que você mora, seria uma boa oportunidade pra visitar a família, esposa, filhos, que não os vê há alguns meses, mas claro que na sua vez o navio tem que mudar a escala e pular aquele bendito porto. Bendita hora que fostes forjado “homem do mar”.

Se o navio deu bobeira e vai ficar 5 dias na baia de guanabara, com sinal de celular, internet e tudo mais, claro que algo de ruim tem por trás, o lado do seu camarote é o lado que o sinal de celular não pega, e a internet te decepciona. Decepcionante vida escolheste, jovem lobo do mar. E se no dia do seu desembarque, todos chegam menos a sua rendiçao, que maldição. “Maldita hora em que te pari, fi duma quenga!”

Mas, sabe, trabalhar embarcado não é de todo mal. Outro dia tinha um furacão aqui pertinho do navio, filmamos e tudo mais; vez ou outra eu posso tirar foto do Cristo e do Pão de Açúcar do lado que vocês não podem! Já comi carne de baleia, churrasco de lagosta, bacalhau da noruega e até aprendi a contar de 1 a 10 em dinamarquês e agora em norueguês (não, não é a mesma coisa... tá, são parecidos, mas tem uma leve diferença na pronúncia do “7”, um é "sul" o outro "shul"). Sem falar dos inúmeros e diários pores do sol sem nada pra atrapalhar a visão. Já fui a Europa, ao Japão, China, Eua e Canadá! Já comi numa mesa com 20 gatos lá na Malásia e depois percebi que eu não sabia nem conhecia nada daquilo que comia. Em Vancouver caminhei num parque em plena neve até não sentir mais os pés e verificar que estavam azuis. Senti frio ao passar pelo Alasca e calor ao atravessar o canal de Suez
Já mergulhei no mediterrâneo com uma sunga branca que todos acham ser uma cueca - culpa do Mr. Giorgio Armani.

Já me perdi em Barcelona e passei a noite na porta de um aquarium, e dormi dentro da boca de um tubarão, dividindo lençol com um mendigo senhor legal que chegou depois dizendo que já dormia ali há algumas semanas. Fui ver se as ilhas Malvinas pertenciam à Argentina e sai de lá dizendo “Falkland Island”. Escoltado na volta pro Brasil por federais nos EUA devido a um visto negado - dormiram comigo no mesmo quarto de hotel temendo haver mais um ilegal latino em suas terras.

Fui ao Chile comer parrillada aproveitando a conexão de 12h e voltei lá meses depois pra conhecer os encantos santiaguenses. Já vomitei, ri e chorei. Canto todos os dias, em todos os cantos, canto. Senti saudades e deixei saudades e quando essa aperta mesmo é por que já está chegando o dia de desembarcar.

E todas as coisas que eu adquiri, viagens, experiências, acho que dessa vida eu vou levar uma boa parte. E no final das contas eu só tenho a agradecer ao meu pai por não me ter deixado cursar engenharia na federal, e a minha mãe por não se preocupar em eu ir morar bem ali em Belém.

3 comentários:

  1. meu amigo gostei muito,realmente trabalhamos em um local onde o filho chora e a mãe não vê,pois é ,se a bordo fosse bom ,não estaríamos lá,seriam filhos de políticos,juízes,e outros aproveitadores por ai,realmente lá é coisa para poucos e poucas,somos verdadeiros heróis,parabéns e um abraço do seu amigo Luciano MNC Maersk

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  2. Gosto quando baixa o santo do poeta em vc...mas o santo de verdade, não aquele encosto que baixou quando vc resolveu "ler um texto" no dia do seu aniversário ¬¬

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  3. Texto legal, gostei, parabéns!
    agora os cometários infernais:

    Este texto foi escrito no dia do meu dia, foi castigo eu sei!
    Resta um consolo: o teste de DNA, foi inventado para vapozeros, depois é que tiveram a ideia de usar no programa do Ratinho,eh,eh,eh...
    Bem que eu imaginava que o título do livro: "Meu pai só faz besteira", não se referia aos filhos,kkkkkkkk!

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